Sábado, Abril 27, 2024
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Fado Bicha lança disco de estreia, “OCUPAÇÃO”, a 03 de junho

 

Juntaram-se em 2017, tomando o fado como ferramenta de trabalho. Acrescentaram-lhe o adjetivo bicha: palavra de luta, orgulho e resistência. São Fado Bicha, ou seja, Lila Fadista João Caçador, e durante cinco anos deram mais de duas centenas de concertos em Portugal e no mundo. “OCUPAÇÃO”, o álbum de estreia da dupla, é o resultado dessa jornada pessoal, artística e política, e será lançado a 3 de junho, em todas as plataformas digitais.

Para Lila João, o projeto Fado Bicha simboliza a ocupação de um património musical e estético com que cresceram, mas que continua preso a uma rigidez cisheteronormativa, que invisibiliza os corpos, as histórias, as dores e as cores das pessoas LGBTI e queer. Pessoas que fazem parte da história do fado, e da sua prática atual, mas que dificilmente puderam criar um legado artístico que refletisse integralmente as suas experiências, histórias e identidades.

Sem pedir licença ou legitimação, Fado Bicha decidiu ocupar um lugar que não existia, e sentar-se à mesa numa cadeira que não estava lá. Convocando outras vozes, corpos e narrativas, Lila e João construíram um repertório assumidamente interventivo e intimamente ligado aos meios e às urgências ativistas que buscam representatividade e orgulho. É assim que pensam o caráter mutável do fado que, como qualquer expressão artística, deve ser apropriado e ressignificado.

“OCUPAÇÃO” é um álbum que reflete esse posicionamento artístico e político, de autoconhecimento e resgate histórico, artivismo e compromisso, homenagem e reinvenção.  Ao longo de cinco anos trabalharam o desenvolvimento do projeto, dando mais de 200 concertos em Portugal, na Europa e no Brasil, onde o destino as levou a uma festa em casa de Caetano Veloso, a um sarau em casa da atriz e psicanalista Cecília Boal, acabando por chegar aos ouvidos da enorme Elza Soares, recentemente falecida, que lhes fez chegar uma mensagem áudio.

O álbum é o culminar de toda essa caminhada, assim como condensa dois anos de colaboração com Luís Clara Gomes, mais conhecido como Moullinex, que produz o disco. Reunindo novas canções e releituras de temas que Lila João cantaram desde o início do projeto, “OCUPAÇÃO” tanto evoca o lado confessional e dramático do fado tradicional, como o reinventa e ressignifica à luz de múltiplos ambientes sonoros e líricos.

Nesse trabalho de reinvenção contaram com a participação de várias artistas da cena queer portuguesa: Symone de la Dragma, passarumacaco, Labaq e Trypas Corassão (Tita Maravilha e Cigarra) colaboram em voz, instrumentação, co-composição e/ou co-produção; tal como a atriz e ativista trans Alice Azevedo e o jovem poeta Bernardo Araújo fazem aparições em duas faixas do álbum. Há uma composição que foi partilhada com Adriano Cintra, ex-músico da banda brasileira Cansei de Ser Sexy, e também fados clássicos de Alfredo Marceneiro ou Frederico Valério, com novos arranjos e leituras conceptuais. Das doze faixas, sete são composições inteiramente originais e nove têm letras originais.

Liricamente, o álbum percorre alguns lugares associados a uma experiência queer em Portugal no século XXI. Homenageia várias figuras da precária ancestralidade queer, como Valentim de Barros (em “Requiem para Valentim“) ou Gisberta Salce (em “Medusa-me“), e da nossa comunidade viva, como a ativista Alice Azevedo (em “Fado Alice“). É um álbum de crítica mordaz à masculinidade tóxica (“Crónica do maxo discreto” ou “Medusa-me“), aborda as dores e dissabores das identidades bichas num mundo de rejeição (“De costas voltadas” ou “Fado do ciúme“) e ensaia hinos de afirmação e recuperação do lugar de subalternidade (“Lila Fadista” ou “Fogo na casa“). Num país de tradição patriarcal e colonial, temas como “ESTOURADA“, “Fado Ribeiro Santos” e “Povo pequenino” oferecem chaves de leitura poética do passado e presente de Portugal que traduzem a frustração de Lila João com a incapacidade coletiva de se pensar a liberdade como uma prática necessariamente diária e desconfortável.

“OCUPAÇÃO” é também a celebração da trajetória e do futuro desta dupla que decidiu tomar conta do seu destino, e não esperar que mais ninguém falasse em seu nome.

Razões fortes, todas elas, para agora se escutar “OCUPAÇÃO“, seu disco de estreia que Lila João gostam de pensar como “um manual de sobrevivência queer em forma de música e discurso, com muito da dor, do luto, da exaltação e da luta que fazem parte das vidas das pessoas LGBTI em Portugal em 2022.”  Vamos a isso?

Fado Bicha – OCUPAÇÃO

  • Requiem para Valentim
  • ESTOURADA (com Symone de la Dragma)
  • 1997 (com Bernardo Araújo e passarumacaco)
  • Lila Fadista
  • De costas voltadas
  • Crónica do maxo discreto
  • Fado do ciúme (com Labaq)
  • Medusa-me (com Trypas Corassão)
  • Fado Ribeiro Santos
  • Fogo na casa
  • Fado Alice (com Alice Azevedo)
  • Povo pequenino

 

Quem são Fado Bicha?
Assumindo-se como um projeto musical, performativo e ativista,  Fado Bicha foi criado em 2017 por Lila Fadista, na voz e nas letras, e João Caçador, na composição e instrumentos. Partindo do fado como ferramenta de trabalho, Lila João exploram livremente esse património musical, superando algumas das barreiras rígidas do fado tradicional, e desafiando a heteronormatividade, o binarismo de género e o apagamento das histórias, das memórias e dos contributos das pessoas LGBTI e queer em Portugal.

Convocando outras vozes, corpos e narrativas, Fado Bicha é um projeto orgulhosamente interventivo, que parte das identidades bichas de Lila João, e do seu envolvimento nos meios, nas temáticas e nas urgências ativistas que buscam diversidade, pertença e representatividade. Desde 2007, deram mais de 200 concertos em 8 países, lançaram três singles, um EP em 2021, participaram em teatro, cinema e televisão, tendo também concorrido à edição de 2022 do Festival da Canção, com o tema “Povo pequenino“.

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