“Ninguém & Todo-o-Mundo” é uma ópera de câmara que viaja entre os nossos dias e o século XVI, lembrando, de forma satírica e divertida, figuras, episódios e ideias em torno da literatura de viagem e do turismo entre estes dois tempos.
Com música de Daniel Moreira e libreto de Edward Luiz Ayres d’Abreu, parte do “Auto da Lusitânia” de Gil Vicente para propor uma viagem bem-humorada que agora estreia em Lisboa, no Teatro da Trindade, a 22 de Junho.
A soprano Teresa Nunes e o tenor João Terleira são os solistas principais, que se metamorfoseiam em diversos papéis: Beatrice (uma turista italiana), Barão (um empresário inglês), Bispo (um clérigo francês), Brünnhilde (uma investidora alemã), Dulce (uma jovem desempregada), Duquesa (uma nobre e falida viúva), Deolinda (uma moradora de rua) e Dâmaso (um agente imobiliário).
A meio do espectáculo, “Ninguém e Todo-o-Mundo” ganham identidades próprias e entra em cena o Coro do Conservatório de Música do Porto para um “interlúdio fantástico” com os diabos Berzebu e Dinato. Se “Todo o Mundo é mentiroso e Ninguém diz a verdade”, como concluía Gil Vicente no seu “Auto da Lusitânia”, quem dirá a verdade a mentir, neste “Ninguém & Todo-o-Mundo”?
Os compositores Daniel Moreira e Edward Luiz Ayres d’Abreu conceberam esta ópera para um grupo de dois cantores, seis instrumentistas e um coro de dezasseis vozes. A inclusão de instrumentos comummente associados a outros géneros musicais, como o acordeão ou a guitarra portuguesa, potenciam um imaginário sonoro diversificado e permeável a tradições musicais não eruditas, possibilitando um diálogo tímbrico enriquecedor que uma componente electrónica vem ampliar ainda mais.
E a farsa, que somos todos nós e que não é ninguém, recontextualiza-se neste espectáculo enquanto elogio bem-humorado e intemporal à viagem em sentido lato.
A viajar constroem-se mundos, apesar de todas as contradições inerentes à vivência e ao usufruto da descoberta.