Domingo, Novembro 16, 2025
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Uma despedida a pedir regresso

Após os dois primeiros dias terem sido dominados pelos seguidores do rock e do hip-hop, eis que na última paragem o Super Bock Super Rock deste ano também deu os seus ares de Coachella à portuguesa, com um público que aprecia tanto ver como ser visto.

Com Steve Lacy, auxiliado pela banda meio escondida no fundo do palco, a desempenhar com mérito o papel de nome maior da noite, confirmando também o estatuto de conquistador de corações, o cartaz horas antes voltou a fazer das suas: é sempre estranho ver Kaytranada, outro grande nome, a começar a fazer o público dançar ainda de dia, especialmente com tamanho jogo de luzes, mas aconteceu.

Durante a tarde, já tinham passado também por ali uns Ezra Collective que, na sua mistura de jazz com muito mais coisas, tentaram fazer a festa literalmente entre os presentes, atravessando a certo ponto pelo meio do público enquanto tocavam.

Seguiu-se Kaleo, rock da Islândia que, corrijam se estiver errado, não fazia ali grande falta e acabou por colaborar com os restantes palcos, fazendo com que Tomás Wallenstein, de calções e robe florido, atuasse ao piano diante de um público considerável para o horário e pequeno palco onde estava encaixado, já antes ocupado por Surma e Irma.

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Interessantes também as passagens pelo palco verdadeiramente secundário, num dia que puxava a que, no final de cada atuação, o público se dirigisse rapidamente para o palco seguinte no alinhamento, parecendo não andar a vaguear tanto pelo recinto, a fazer tempo, como nos outros dias. Ali passaram APART, Biig Piig, PinkPantheress, tudo com capacidade para merecer que quem não conhecia queira agora ouvir mais.

O destaque deste palco terá mesmo de ir para quem o encerrou, os parisienses L’Impératrice, que, de coração luminoso ao peito, conseguiram aquecer mais uma noite fresquinha na Herdade do Cabeço da Flauta. Cheios de confiança e com uma vocalista bastante comunicativa, criaram uma boa onda coletiva nesta segunda passagem pelo nosso país, após Paredes de Coura. Para ir seguindo com atenção, especialmente ao vivo.

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Mais que uma onda, quase uma tempestade, foi a atuação um pouco antes de Chico da Tina, que, com os seus insufláveis a saltitar pelo público, de colchões de praia a várias bolas gigantes, e quase uma equipa de futebol em palco, por momentos até fazia esquecer a qualidade do som, sendo complicado em muitas fases perceber o que saía da sua boca. Felizmente, com os ecrãs e as palavras de ordem ensinadas pelo Chico, a coisa deu-se, com sorrisos nos lábios.

A encerrar o palco principal esteve o também brilhante Parov Stelar, austríaco que faz algo a que chamam electro-swing, essencialmente uma bela festa, quase a lembrar os Balcãs, com um toque de classe a nível de postura, design de palco, até da própria banda, incluindo a vocalista que, de vestido e botas, tornava complicado não a seguir com o olhar, mesmo com bastantes cúmplices ao redor, incluindo um ao saxofone.

Talvez merecessem mais destaque, mas a escolha terá ido para fechar o festival em grande, neste regresso ao Meco que fez todo o sentido, com um ambiente totalmente diferente do vivido nas edições do Parque das Nações, apesar dos memoráveis concertos que aconteceram por lá (lembras-te, Kendrick Lamar?). O Parque Tejo, antecessor na longa lista de formatos ao longo de três décadas, também não acrescentava por aí além e aqui, melhorado o trânsito e o estacionamento, resta afinar coisas como as instalações sanitárias para cada vez fazer mais sentido. Para sempre, como dizem.

Texto | Hugo Vinagre
Fotos | Jorge Torres Carmona
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