Após os dois primeiros dias terem sido dominados pelos seguidores do rock e do hip-hop, eis que na última paragem o Super Bock Super Rock deste ano também deu os seus ares de Coachella à portuguesa, com um público que aprecia tanto ver como ser visto.
Com Steve Lacy, auxiliado pela banda meio escondida no fundo do palco, a desempenhar com mérito o papel de nome maior da noite, confirmando também o estatuto de conquistador de corações, o cartaz horas antes voltou a fazer das suas: é sempre estranho ver Kaytranada, outro grande nome, a começar a fazer o público dançar ainda de dia, especialmente com tamanho jogo de luzes, mas aconteceu.
Durante a tarde, já tinham passado também por ali uns Ezra Collective que, na sua mistura de jazz com muito mais coisas, tentaram fazer a festa literalmente entre os presentes, atravessando a certo ponto pelo meio do público enquanto tocavam.
Seguiu-se Kaleo, rock da Islândia que, corrijam se estiver errado, não fazia ali grande falta e acabou por colaborar com os restantes palcos, fazendo com que Tomás Wallenstein, de calções e robe florido, atuasse ao piano diante de um público considerável para o horário e pequeno palco onde estava encaixado, já antes ocupado por Surma e Irma.
Interessantes também as passagens pelo palco verdadeiramente secundário, num dia que puxava a que, no final de cada atuação, o público se dirigisse rapidamente para o palco seguinte no alinhamento, parecendo não andar a vaguear tanto pelo recinto, a fazer tempo, como nos outros dias. Ali passaram APART, Biig Piig, PinkPantheress, tudo com capacidade para merecer que quem não conhecia queira agora ouvir mais.
O destaque deste palco terá mesmo de ir para quem o encerrou, os parisienses L’Impératrice, que, de coração luminoso ao peito, conseguiram aquecer mais uma noite fresquinha na Herdade do Cabeço da Flauta. Cheios de confiança e com uma vocalista bastante comunicativa, criaram uma boa onda coletiva nesta segunda passagem pelo nosso país, após Paredes de Coura. Para ir seguindo com atenção, especialmente ao vivo.
Mais que uma onda, quase uma tempestade, foi a atuação um pouco antes de Chico da Tina, que, com os seus insufláveis a saltitar pelo público, de colchões de praia a várias bolas gigantes, e quase uma equipa de futebol em palco, por momentos até fazia esquecer a qualidade do som, sendo complicado em muitas fases perceber o que saía da sua boca. Felizmente, com os ecrãs e as palavras de ordem ensinadas pelo Chico, a coisa deu-se, com sorrisos nos lábios.
A encerrar o palco principal esteve o também brilhante Parov Stelar, austríaco que faz algo a que chamam electro-swing, essencialmente uma bela festa, quase a lembrar os Balcãs, com um toque de classe a nível de postura, design de palco, até da própria banda, incluindo a vocalista que, de vestido e botas, tornava complicado não a seguir com o olhar, mesmo com bastantes cúmplices ao redor, incluindo um ao saxofone.
Talvez merecessem mais destaque, mas a escolha terá ido para fechar o festival em grande, neste regresso ao Meco que fez todo o sentido, com um ambiente totalmente diferente do vivido nas edições do Parque das Nações, apesar dos memoráveis concertos que aconteceram por lá (lembras-te, Kendrick Lamar?). O Parque Tejo, antecessor na longa lista de formatos ao longo de três décadas, também não acrescentava por aí além e aqui, melhorado o trânsito e o estacionamento, resta afinar coisas como as instalações sanitárias para cada vez fazer mais sentido. Para sempre, como dizem.
Texto | Hugo VinagreFotos | Jorge Torres Carmona



