Quarta-feira, Maio 1, 2024
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Disco de Estreia de Miguel Xavier à Venda a Partir de Hoje dia 02 de Novembro

Miguel Xavier licença para cantar

Dizem-me que, de muito pequenino, se esticava na cama ao lado da avó, um transístor sintonizado para uma rádio fado, pousado entre os dois. O Miguel Xavier aprendia, literalmente, todos os fados.

Quando o Miguel Amaral me levou a ouvi-lo, ele teria 19 anos. Fiquei tão siderado como quando ouvi o Camané então mais ou menos da mesma idade. Haverá quem “nasça para o fado” ou quem por lá viva, apanhando-lhe jeitos e tiques, mas o que reacende a identificação de uma voz que só pode e só deve ser do Fado é aquela flexibilidade melódica e aquele pouco de ar que mal se sente no som, mas que marca a diferença entre os melismas do Fado, seus estilos e variações, e os do Cante Flamenco, por exemplo. Muito boas vozes não conseguem nunca produzir a diferença que este som tem.

Miguel Xavier canta quase hirto, hierático, concentrado, sem gestos nem jeitos nem sinais de legitimação marialva, bairrista ou fadisteira. É apenas um músico integral. Nem fusões, nem infusões, nem vícios. Canta maravilhosamente e está só, por dentro daquilo que canta. Basta comparar o trecho de Alexandre O’Neill / Filipe Teixeira (produzido na melhor tradição daquele fado que Amália literou e revolucionou) com o clássico “Velhinho Fado Menor” (com versos da discreta Maria Manuel Cid) para confirmar o seu profundo conhecimento e autenticidade. São coisas que fazem do Fado a sina de alguns. São esses os poucos que cantem o que cantem, cantam sempre de algum modo Fado, ou que quando cantam Fado o exponenciam e elevam.

À volta de Miguel Xavier está uma espécie de “família” mais ou menos local que, sob a liderança de Miguel Amaral, se desdobra em escritores de fados de primeira água: Mário Laginha, Luís Figueiredo, Filipe Teixeira, André Teixeira e Marco Oliveira por exemplo. É isso que ajuda a fazer do disco de MX um dos mais belos discos de Fado dos últimos tempos.

A criança, nas suas sestas com a avó, nunca sonhou ter uma missão. Cresceu apenas para aquele lugar suave e ético que é a Arte.

 

MIGUEL XAVIER | EDIÇÃO 02 NOV
  • 01 – Soneto Inglês – Alexandre O’Neil/Filipe Teixeira
  • 02 – Disse-te Adeus – Manuela de Freitas/Raul Pinto ( Fado Raúl Pinto )
  • 03 – O Tejo Corre no Tejo – Alexandre O’Neil/Carlos Teixeira
  • 04 – Graças de Lisboa – António Vilar da Costa/Mário Laginha)
  • 05 – Fadista Louco – Domingos Gonçalves da Costa/Popular ( Fado Corrido )
  • 06 – Fui de Viela em Viela – Guilherme Pereira da Rosa/Alfredo Marceneiro(Fado Cravo)
  • 07 – Mouraria Mouraria – Armando da Costa dos Santos/Júlio Proença
  • 08 – Nenhum de Nós – Marco Oliveira/Miguel Amaral (Fado Alexandrino do Amaral)
  • 09 – Não Voltes – Maximiano de Sousa ( Max)/Renato Varela ( Fado Varela )
  • 10 – Um Fado Vivido – Manuela de Freitas/Miguel Amaral ( Fado Amaral em Quintilhas )
  • 11 – Amor e Saudade – António Torre da Guia/André Teixeira ( Fado Torre )
  • 12 – Na Distância dos Teus Passos – Marla Amastor/Miguel Amaral ( Fado Xavier )
  • 13 – Braços Erguidos – António Campos/António Chainho
  • 14 – Um Carnaval – Alexandre O’Neil/Luís Figueiredo
  • 15 – Velhinho Fado Menor – Maria Manuel Cid/Popular ( Fado Menor )

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